Estava trocando de canal e acabei caindo em um clipe de pagode...
Foi por puro acidente...
Como eu dizia, assisti ao clipe e tive a impressão de que ouvi aquela
música antes. E sim, eu ouvi a mesma música diversas vezes, com letras e
harmonias diferentes, pois em todas se diz a mesma coisa: alguém se deu
mal por causa de uma relação amorosa, ou alguém que valoriza demais outra pessoa, ou alguém que sente falta de uma relação.
Essa
questão me incomoda há tempos: eu vejo nesse tipo de música
ou letras ditas românticas apenas um individuo com autoestima
baixissima, relegando sua vida na dependência de outro.
O agravante é que isso é um fator condicionante da civilização.
Tenho
para mim que o romantismo é uma farsa de auto-estima e
correlaciona, sim, uma dependência sobre o outro - ou pior, sobre
ninguém, mas sobre o proprio sentimento ou sobre a própria necessidade
do sentimento. Considerando os valores atuais, eu não consigo ver
nada no romantismo que consiga aprimorar o indivíduo.
Talvez alguém diga: "isso é amor".
Eu
poderia dizer: "não é apenas uma visão egoística"? Afinal, o objetivo
dos atos romanticos é "fazer-se" visivel para o outro e tornar-se
importante para ele "demonstrando" (e de maneiras esterotipadas) que ele
é a pessoa ideal para o romantico.
Alguém mais poderia dizer: "mas, ao contrário, é a devoção desprendida pelo sentimento mais puro".
Bem, eu poderia responder que "puro" o tal sentimento pode não ser, pois pureza deriva de quem é puro e isso ninguém aqui é.
Mais alguém diria: "é solidariedade para com o outro".
E é aí que chegamos num ponto interessante...
Animais
cuidam uns dos outros. Isso não é romantismo. Mães e pais cuidam dos filhos e
isso não é romantismo. Filhos cuidam dos pais e isso não é romantismo.
Então, o ato singular de ter cuidados para quem se gosta não pode ser
confundido com atitudes teatrais de demonstração social ou expressão
material da afetividade. Sim, pois não raro, o tal romantismo está
estreitamente ligado à valorização da matéria em forma de presentes,
ambiência, alimentação. Isso quando não se parte para a adulação
explicita.
Acho que todos sabem que tomar
cuidados para com quem é uma coisa. Já pararicar, adular, enaltecer
demasiado, posicionar-se como vassalo ou vitima, favorecer materialmente em
questões não essenciais e gostar de pagode... isso, com
certeza não se enquadra no que eu consigo ver como algo evolucionário.
O
romantismo é uma grande encenação na qual o cidadão de fato acredita
que ele é o mocinho, a outra é a mocinha (ou vice-versa) e que juntos
vão "combater o mundo inteiro que está contra eles".
Isso quando, de
fato, o romântico não é um corno que insiste doentiamente em algo que
nunca era para ser.